Vivemos  em uma cultura onde cultua-se e respeita-se apenas a vitória. É muito  raro alguém admirar o segundo colocado, aquele que não venceu, que não  foi o melhor. Em nossa cultura presta-se honra ao vencedor, àquele que  supera a todos. As pessoas só comemoram a vitória.
Isso  não é o ideal. Muitas vezes o segundo colocado possui muito mais honra e  glória que o primeiro, muitas vezes o quinto colocado foi mais longe  que aquele que chegou em primeira colocação.
Como pode ser isso?
Há  ocasiões em que o 5º colocado superou-se muito mais, ultrapassou os  seus próprios limites. Se você reparar as condições de treinamento  atlético em Cuba, verá que seus atletas superam-se muito mais do que o  de outros países, onde há uma infraestrutura e conforto.
(...)  É por vivermos nessa cultura de vencedores que não aprendemos a perder,  a compreender que também há glória na derrota. Perder, ser derrotado,  ser o segundo também é honroso. Apenas uma derrota é ruim: a derrota sem  honra (...), como no caso da utilização de meios ilegítimos (...).
Dentro  dessa cultura o que importa é vencer, ter dinheiro, ser famoso, estar  na “crista da onda”. E quantas vezes sobe-se bem alto unicamente para o  tombo ser maior.
Faço,  pois, de certo modo, uma defesa da derrota e do erro. Derrotas ensinam,  derrotas fazem meditar, derrotas exigem paciência, fortaleza,  persistência. Derrotas exigem do derrotado a capacidade de superar-se,  de melhorar, de tentar mais uma vez. Sob este aspecto, perder ensina  muito mais que vencer.
O  primeiro colocado já o melhor, é coroado, amado, recebe dinheiro, fama,  poder. Por isso, vencer é perigoso: vencer dá a ideia que se está  completo, no topo, de que não precisa melhorar mais.
Por  isso, é preciso saber vencer e saber perder. Ao vencer é preciso  humildade e cautela. O fato de ter sido vitorioso hoje não nos assegura a  vitória amanhã (...).
Ao perder, é preciso não se abater, treinar mais, aprender mais, tentar mais uma vez (...)
O  que a nossa sociedade não tem correta noção é de que a derrota traz em  si um conteúdo didático, um legado de experiência e crescimento. Sob  este aspecto, em cada derrota esconde-se um legado de vitórias, e a  semente e a possibilidade de uma vitória no futuro. Tudo desde que se  compreenda a grandeza de perder e de se persistir até vencer.
Da  mesma forma que aprendemos a vencer, aprendemos a acertar. E acertar  sempre, como querem os pais, os mestres, o mundo. A nota dez é que a  nota dez! O “A”, o melhor, o primeiro colocado! Um monte de ilusões.
Querem  sempre que acertemos. Somos sempre medidos pelos nossos acertos, pelo  número de vezes que demos a resposta certa, que fizemos o exercício  corretamente, que vencemos.
Esquecem-se  que, desde que haja a devida consciência e atitude, cada erro traz  consigo uma parcela de aprendizagem. É a aprendizagem o que importa:  deveríamos ser julgados pelo percentual de aprendizagem e não pelo  percentual de acertos. Medir acertos e erros é mais fácil que medir  aprendizagem, que nem sempre coincide com eles (...) Quem erra cresce e  aprende se souber como errar, isto é, como conviver com o erro e se  aperfeiçoar com ele e através dele.
Exatamente  por vivermos em uma sociedade que apenas enaltece o triunfo, sem  compreendê-lo bem, muitos passam a ter medo de tentar porque cada  tentativa traz em si a possibilidade da vitória ou da derrota, do acerto  ou do erro.
O  pavor diante do erro e da derrota torna-se algo tão profundo que a  pessoa prefere não tentar do que tentar e eventualmente ser derrotado ou  errar.
Por  esse motivo, muitos se sentem no limbo cinzento do comodismo, do receio  e do medo porque não querem correr o risco necessário para se acertar.
Contudo, se você não pode perder, também não pode vencer.
Conheço  muitas pessoas cujo orgulho ou receio impediram-nas de fazer um  concurso, de tentar uma prova, de fazer uma entrevista, tudo com medo de  perder. E fazendo isso, enganadas por uma sociedade consumista e  sedenta de heróis troianos, tais pessoas sentam-se à mesa daqueles que  bebem um vinho sem gosto, que comem uma comida sem sabor. Antes,  tentassem, antes perdessem, pois na derrota teriam mais honra e glória,  na derrota teriam tido a virtude da busca da vitória, que é um valor que  excede a vitória em si.
Errar é, por vezes, um sinônimo de estar vivo, de tentar, de experimentar, de ousar.
Não  tenha medo de errar. É preciso olhar a vitória com a penitência do  derrotado e a derrota, se digna, com o orgulho do vitorioso.
De: Willian Douglas
(Extraído  do livro: Como passar em provas em concursos e nunca teve a quem  perguntar - 10ª edição - Editora Impetus - Willian Douglas)
Raquel Michelline: http://raquelmichelline.blogspot.com 

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